O Brasil no Século 18
Nos séculos 17 e 18, houve várias expedições ao interior do Brasil em busca de minerais preciosos e minas importantes foram encontradas. No século 18, a Inglaterra tornou-se a maior potência mundial e patrocinou grande contrabando de ouro na América do Sul, inclusive no Brasil.
De 1750 a 1777, o Brasil sofreu uma grande reestruturação promovida pelo Marquês de Pombal. Os educadores do Brasil, os jesuítas, foram expulsos, o que requereu uma reforma no ensino. Com a descoberta de minerais preciosos nas Minas Gerais, a capital do Brasil foi transferida para o Rio de janeiro, em 1763, um porto mais próximo da exploração das riquezas.
O final do século 18 foi marcado por movimentos de emancipação política em Minas Gerais e Bahia. Pesquisas e documentos dos últimos anos mostram que, em ambos, houve uma conexão estrangeira em busca de apoio militar: Estados Unidos (Minas) e França (Bahia). Os dois movimentos contaram com a participação de militares e intelectuais brasileiros que estiveram na Europa. Sabiam que um levante contra Portugal requeria apoio externo.
O século termina com a Bahia voltando a ser a capitania mais rica do Brasil, após a queda na produção de ouro e diamantes nas Minas Gerais. Salvador era o principal porto do Brasil, a segunda maior cidade do Império Lusitano, atrás apenas de Lisboa, e uma das cidades mais ricas da América.
Cronologia
1703 - Tratado de Methwen, entre Portugal e Inglaterra
1706 - Subiu ao trono de Portugal o rei Dom João V, que reinou até 1750.
1707 - Guerra dos Emboabas. Exploradores paulistas descobriram jazidas de ouro na região do atual Estado de Minas Gerais, atraindo aventureiros de outras partes do Brasil. A disputa pelo direito de exploração envolveu paulistas e índios, liderados por Borba Gato, contra exploradores, principalmente baianos (os emboabas), que saíram vitoriosos. O conflito terminou em 1709.
A capitania do Rio de Janeiro foi desmembrada, para a criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Essa duraria até 1720, quando um revolta contra a implantação de casas de fundição de ouro levaria a separação da capitania em duas: São Paulo e Minas Gerais.
1710 - Guerra dos Mascates. Em Pernambuco, a emancipação de Recife como comarca de Olinda gerou conflitos entre latifundiários locais (e índios mazombos) e comerciantes (os mascates). O confronto ficou conhecido como Guerra dos Mascates e terminou com a intervenção da coroa portuguesa em defesa da autonomia do Recife.
1713 - Firmado o Tratado de Utrecht entre Portugal e França, estabelecendo as fronteiras portuguesas do norte do Brasil: o rio Oiapoque foi reconhecido como limite natural entre a Guyana e a Capitania do Cabo do Norte.
1718 / 1722 - Após a derrota na Guerra dos Emboabas, os paulistas exploraram o interior de Goiás e Mato Grosso onde encontraram ouro.
1724 - Rocha Pitta, em sua Historia da America Portugueza (c. 1724), citou que existiam no Brasil 12 cidades, 77 vilas, quatro bispados e um arcebispado (Bahia).
1734 - Encontrou-se ouro no Vale do Alto Guaporé, atual Rondônia.
1736 - O relojoeiro inglês John Harrison demonstra o primeiro método prático de determinação precisa das longitudes, em alto mar, com grande impacto para as navegações.
1737 - O brigadeiro José da Silva Paes fundou o povoado do Rio Grande de São Pedro, que se tornou, em 1747, a primeira vila nas terras do atual Rio Grande do Sul.
1742 - Mineradores, desobedecendo ordens régias para evitar o comércio clandestino de ouro, desceram os rios Guaporé, Madeira e Amazonas e chegaram em Belém, inaugurando uma rota que se tornaria estratégica para o oeste de Mato Grosso (atual Rondônia). Mais: História de Rondônia ►
1744 - Foi criada a Capitania de Goyaz, desmembrada de São Paulo. O governo da nova capitania foi instalado em 1748, com capital na Vila Boa de Goyaz, atual cidade histórica de Goiás.
1748 - Em carta régia de 9 de maio, foi criada a Capitania do Matto Grosso e Cuiabá. A criação das capitanias de Goyaz e Matto Grosso tinha relação com a descoberta de minas de ouro nessas regiões. Os portugueses também buscavam assegurar o domínio do território.
1750 - Com a morte de Dom João V, subiu ao trono Dom José I, que nomeou Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal em 1769) como primeiro ministro (1750-1777).
Os reis de Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madrid para solucionar conflitos nas fronteiras dos domínios americanos dos dois reinos. O Tratado de Tordesilhas foi abandonado e os limites dos dois reinos na América do Sul foi redefinido.
1751 - O Estado do Maranhão e Grão-Pará passou a se denominar Estado do Grão-Pará e Maranhão e a capital foi transferida de São Luís para Belém.
1755 - O Terremoto de Lisboa destruiu grande parte da Cidade.
Em março foi criada a Capitania de São José do Rio Negro (atual Estado do Amazonas), desmembrada do Grão-Pará, com capital em Barcelos. Mais: História do Amazonas ►
Uma lei de 6 de junho de 1755, aboliu a escravidão indígena. Outra lei do dia 7 seguinte, aboliu a administração temporal, que os missionários exerciam sobre os índios. Ambas válidas para o Estado do Grão-Pará e Maranhão.
O futuro Marquês de Pombal criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão.
1757 - Em maio, foi publicado o Diretório dos Índios, pelo futuro Marquês de Pombal. Era um documento que assegurava a liberdade e a educação dos índios no Estado do Grão-Pará e Maranhão, na língua portuguesa. O Diretório incluiu também outras medidas, novas e anteriores, que buscavam a integração dos índios à sociedade portuguesa. Em agosto de 1758, passou a valer em toda a América Lusitana. Chegou ao Governo do Estado do Brasil, em Salvador, em 3 de fevereiro de 1759. Em 19 de maio de 1759, o Conselho Ultramarino da Bahia emitiu um parecer recomendando a aplicação parcial do Diretório e novas consultas ao Rei, enviadas em junho daquele ano. O Vice-Rei D. Marcos de Noronha e Brito, na Bahia, foi substituído em janeiro do ano seguinte e recebeu censura pela sua posição quanto ao Diretório, em 1761. Na prática, a aplicação das medidas do Diretório foi parcial, mas mudou definitivamente a relação entre a Coroa e os índios da América Lusitana.
1759 - Os jesuítas foram expulsos do Brasil. Suas igrejas, colégios e missões foram abandonadas. Pombal promoveu uma reforma educacional após a expulsão do jesuítas. O resultado foi uma degradação no ensino.
Em 1760 foi criada a Capitania do Rio Grande de São Pedro, com sede na Vila do Rio Grande e subordinada ao Rio de Janeiro.
1763 - O Rio de Janeiro substituiu Salvador como capital do Estado do Brasil. A principal razão era que o Rio de Janeiro servia como escoamento da exploração de ouro em Minas Gerais. Salvador continuou como a maior cidade do Brasil até o início do século 19. Salvador também continuou a ser a Capital Eclesiástica da América Lusitana, até 1892, e a Capital Jurídica de sua parte norte, até 1808, quando a Relação do Rio de Janeiro foi elevada à condição de Casa de Suplicação, pelo alvará de 10 de maio de 1808.
Nos mesmo ano de 1763, os espanhóis invadiram parte das terras da Capitania do Rio Grande de São Pedro e a Ilha de Sana Catarina. Os portugueses transferiram a sede da Capitania para a Freguesia de Viamão. Por 13 anos, os espanhóis ocuparam a maior parte daquela capitania brasileira, até serem expulsos em 1776. A Ilha de Sana Catarina foi devolvida no ano seguinte pelo Tratado de Santo Ildefonso.
1772 - Em 20 de agosto, a América Lusitana passou a ser composta por três estados (os Brasis): o Estado do Brasil (propriamente dito), com capital no Rio de Janeiro, o Estado do Grão Pará e Rio Negro, com capital em Belém, e o Estado do Maranhão e Piauí, com capital em São Luís. Entretanto, a divisão em dois estados, do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão só se efetivou com a provisão de 9 de julho de 1774.
1775 - Construída uma fortificação, conhecida como Forte Coimbra, no atual município de Corumbá, Mato Grosso do Sul, buscando garantir as fronteiras do Brasil com a América Espanhola e assegurar a navegação pelo Rio Paraguay. O povoado, que veio a ser conhecido como Corumbá, foi fundado em 1778.
1776 - Declaração de Independência dos Estados Unidos.
Nesse ano, começou a construção do Real Forte Príncipe da Beira (em Rondônia), concluído em 1783. Essa fortaleza buscava garantir a fronteira do Brasil (Capitania de Mato Grosso) e a navegação no Rio Guaporé para o escoamento do ouro.
1777 - Em 24 de fevereiro, morreu o Rei de Portugal Dom José I e subiu ao trono Dona Maria I.
Em 4 de março, o Marquês de Pombal foi demitido. Em 1779, foi processado por abuso de poder e corrupção. Em 1781, foi condenado ao desterro. Morreu no ano seguinte.
Em 1º de outubro, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso. Segundo o acordo, a Espanha devolveria os territórios ocupados da Ilha de Santa Catarina (atual Florianópolis) e terras do atual estado do Rio Grande do Sul em troca do controle da Colônia do Sacramento e da região dos Sete Povos das Missões, em reafirmação do Tratado de Madrid (1750).
1779 - Em Portugal, fundou-se a Academia Real das Ciências e a Academia Real da Marinha.
Em 1781, a Grã-Bretanha ocupou a Ilha da Trindade, mas abandonou após protestos de Portugal, que iniciou a colonização da Ilha, em 1783, abandonada, em 1795.
1785 - Pelo Alvará de 5 de janeiro, a Rainha D. Maria I proibiu o estabelecimento de fábricas e manufaturas no Brasil. A indústria têxtil ficou restrita às fazendas grossas de algodão. Alegava-se que, há alguns anos, vinham surgindo muitas fábricas e manufaturas no Brasil, com prejuízo da lavoura e da exploração de minerais. O que realmente ocorria era um aumento do contrabando e um esgotamento das minas de ouro, cuja arrecadação de royalties chegara a cerca da metade do que fora em 1754. A indústria no Brasil foi restabelecida, em 1808, quando o Príncipe D. João autorizou uma fábrica de vidros na Bahia. O Alvará foi anulado em 1º de abril de 1808.
1789 - Na Capitania das Minas Gerais um movimento de inconfidência foi denunciado. A Inconfidência Mineira começou por volta de 1785, quando representantes buscaram apoio dos Estados Unidos para a causa da independência. Terminou frustrada.
Na França, começou a Revolução Francesa.
1792 - Como herdeiro do trono, Dom João tinha o título de "Príncipe do Brasil". Em 1792, passou a governar Portugal, por incapacidade de sua mãe, a Rainha D. Maria I. Em 15 de julho de 1799, Dom João tornou-se Príncipe Regente de Portugal, Algarves e demais domínios lusitanos.
1798 - Eclodiu em Salvador a Conjuração Baiana, o maior movimento social de brasileiros até a época. Iniciada por intelectuais e membros da elite baiana, em 1796, ganhou apoio popular no ano seguinte, com a participação de artesãos, soldados e escravos. Uma negociata entre o governador da Bahia e os conjurados ricos, livram a elite das acusações. Quatro mulatos são enforcados no Largo da Piedade, soldados e alfaiates.
O caboclo no topo do Monumento à Independência, no Campo Grande, em Salvador, do escultor italiano Carlo Nicoli. Inaugurado em 1895, com 26 metros de altura, era o mais alto monumento da América do Sul.
Na Bahia, os caboclos participaram ativamente dos movimentos de emancipação política do Brasil, desde a Conjuração Baiana até a Guerra da Independência. Nas comemorações do Dois de Julho, os caboclos são os principais homenageados.
Dom José I, numa moeda de ouro de 6400 Reis, cunhada na Bahia, em 1761.
A Casa da Moeda do Brasil foi fundada, em Salvador, em 1694. A partir de 1714, existiram duas casas da moeda, uma no Rio de Janeiro e outra na Bahia. Outras casas da moeda funcionaram provisoriamente em Pernambuco e em Minas Gerais. A Casa da Moeda da Bahia funcionou, até 1834, na atual Praça Thomé de Sousa.
Os Profetas do Aleijadinho, em Congonhas. As Minas Gerais foram o destaque econômico do Brasil, no século 18.
A Expedição de Cândido Rondon nas ruínas do Real Forte Príncipe da Beira (em 1929), na margem direita do Rio Guaporé, em Rondônia. Além da proteção da fronteira, a navegação nesse Rio era estratégica para os interesses da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, criada pelo Marquês de Pombal. O Real Forte Príncipe da Beira foi um dos maiores empreendimentos militares do Brasil, no século 18.
Robert de Niro no papel de um "bandeirante" caçando índios, no século 18 (A Missão, 1986). Essa coisa de "bandeirantes" foi uma mitologia forjada no século 20. Eram, na verdade, selvagens bem armados, que se concentravam principalmente na Vila de São Paulo, caçavam humanos nativos para escravizar e desobedeciam as leis da Coroa.
Esses caçadores de gente atacavam não apenas índios em suas habitações tradicionais, preferiam, na verdade, atacar as missões de índios cristianizados, em atos de franca covardia, pois os índios das missões eram proibidos pelos jesuítas de guerrear.
Os verdadeiros capitães exploradores tinham autorização oficial para desbravar os sertões e guerrear os índios, se necessário, mas não caçá-los para a escravidão, embora alguns capitães o fizessem. Como exploradores, destacaram-se principalmente baianos e paulistas.
Guerreiros guaicurus. Habitavam parte da região do Pantanal até o sul de Goiás. Eram agricultores, comerciantes de animais e exímios cavaleiros. Fabricavam os próprios tecidos que vestiam, com o algodão que cultivavam. Sua sociedade era dividida em castas e incluíam nobres, soldados e escravos, que eram principalmente prisioneiros de guerra. Dos século 16 ao 18, os guaicurus eram temidos pelos portugueses, que sucumbiram muitas vezes durante expedições pelo interior, por esses audazes guerreiros. Em 1791, os portugueses conseguiram um tratado de paz com os guaicurus.
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O Forte Coimbra, na margem direita do Rio Paraguay, perto das fronteiras com a Bolívia e o Paraguay. A primitiva fortificação, no local, foi erguida, em 1775, para proteger a fronteira do Brasil com a América Espanhola e assegurar a navegação no Rio. O século 18 foi de negociações intensas para demarcar territórios da Espanha e de Portugal.
O Brasil no Século 18
Charge de Cavalarie Gouaycourous, J.B. Debret, 1822.
C. Knepper
Cores do Brasil